Samstag, 11. Juli 2009

UMA EXPERIÊNCIA DE PARCERIA ACADÊMICA NO BRASIL

A EXPERIÊNCIA DA OBRA ECUMÊNICA DE ESTUDOS - BOCHUM - COM O PROGRAMA DE PARCERIA ACADÊMICA NO BRASIL
Faz uns 30 anos que o Prof. Dr. Achim Schrader e eu pela primeira vez nos encontramos. Naquela ocasião acompanhado de sua equipe, nos procurou na casa paroquial de Dois Irmãos em função de um projeto de pesquisa, a fim de estabelecer os primeiros contatos na região, já que no interior de nossa paróquia deveria se realizar parte do levantamento sociológico por ele planejado. O resultado da pesquisa foi apresentado, em colaboração com Manfredo Berger e Birgit Schrader, no tomo LANDSCHULE IN BRASILIEN BEITRÄGE ZUR SOZIOLOGIE UND SOZIALKUNDE LATEINAMERIKAS, Athenäum Verlag Frankfurt 1972. Em1966 nem imaginamos que seis anos depois, na Diretoria, no Conselho e no Comitê de Seleção da Obra Ecumênica de Estudos colaboraríamos durante muitos anos estreitamente na tarefa de organizar e estruturar, antes de tudo, o Programa de Parceria Acadêmica e, quase simultaneamente, um eficaz programa de emergência nada burocrático para refugiados e jovens acadêmicos ameaçados pelos regimes fortes da época, principalmente na América Latina. Ao dedicar-nos, antes de tudo , às `coisas brasileiras´- através de conferências e publicações como, p. ex., no Anuário - e ao cuidar dos acadêmicos brasileiros que realizavam seus estudos na nossa região, etc., tornamo-nos "companheiros de luta" e tornamo-nos bons amigos, até hoje. É com gratidão e admiração que dedico este artigo ao Prof. Dr. Achim Schrader, pontífice incansável entre a universidade alemã e brasileira.
AS RAÍZES DA OBRA ECUMÊNICA DE ESTUDOS
Foi há 35 anos que ocorreu a fundação da Obra Ecumênica de Estudos (Ökumenisches Studienwerk e. V. Bochum), visando ao apoio a estudantes estrangeiros, inclusive o necessário preparo para os estudos na Alemanha, como também à orientação acadêmica e humana durante o período de estudos, e, mais ainda, ao apoio especial no momento do regresso ao país de origem. No contexto do Departamento de Ajuda Internacional da Igreja Evangélica na Alemanha, a Obra Ecumênica de Estudos [ÖSW] - representa o elemento de apoio ao setor acadêmico.
O Presidente de Igreja, e spiritus rector da Obra Ecumênica de Estudos, D. Hans Thimme, destacou que esta instituição devia a sua existência "às origens criativas da Igreja após 1945". "Cheio de graça, devido à chance para um novo começo", diz Thimme, "esta, naquele momento, estava motivada - antes de tudo entre os adeptos da Igreja Confessante, por motivo das omissões culpáveis dos cristãos na era do Terceiro Reich - ... de sublinhar de maneira adequada a responsabilidade da Igreja não apenas para sua própria continuidade, mas também, e em primeiro lugar, pelo serviço ao mundo, em todos os setores da vida pública, como a Escritura e a Confissão da Igreja mesmo o exigem."
A ÖSW vincula no seu conceito a vasta experiência da Igreja evangélica no campo da educação com o impulso que provém do Programa Eclesiástico de Cooperação Internacional em Favor do Desenvolvimento, inspirado pelo movimento ecumênico. Da Terceira Assembléia Geral do Conselho Ecumênico de Igrejas, no ano de 1961, em Nova Déli sob o lema central "Jesus Cristo a luz do mundo" emergiu a faísca inicial para todo este movimento que logo depois se tornou realidade com a fundação do "Serviço Eclesiástico em favor do Desenvolvimento". Foi a assembléia de Déli que salientou de novo a responsabilidade cristã pelo mundo inteiro e, referindo-se pela primeira vez na história do movimento ecumênico, à miséria dos países pobres no hemisfério sul. Em apelo dirigido aos governos dos povos, a assembléia geral em Déli proclamou a "luta em favor do desenvolvimento do mundo", com o objetivo de "partilhar o dom da civilização com toda a humanidade." Ao mesmo tempo percebeu-se de novo a importância dos "leigos" para a Igreja e sociedade civil e descobriu-se que de fato são os seres humanos que, sob o aspecto da política desenvolvimentista, significam a maior riqueza de um país, e que a Igreja, como também a sociedade civil em geral, carecem de mão de obra altamente qualificada, ou seja, de pessoas que se prontifiquem a contribuir com seus dons em favor do próximo. Recomendou-se às Igrejas apoiar exatamente este tipo de pessoas. Até lá, bolsas de estudo para projetos não-teológicos eram quase desconhecidos. Percebe-se que as raízes da ÖSW encontram-se de fato na ética social, na descoberta da tarefa diacônica global da Igreja.
A PLANIFICAÇÃO DA OBRA ECUMÊNICA DE ESTUDOS
A ÖSW foi projetada de propósito como "irmã gêmea" da ES-Villigst (Evangelisches Studienwerk Villigst). Esta, através de suas ex-bolsistas - por exemplo, com a elaboração do parecer de 1970 - desde logo participou de forma intensa no planejamento conceitual da nova instituição. Desde o começo esta foi concebida em favor de estudantes do "Terceiro Mundo", e isso em analogia ao programa do ES-Villigst que, da parte da Igreja Evangélica, desejava contribuir através da formação qualificada de jovens acadêmicos alemães, beneficiando estudantes de todas as disciplinas, e não apenas da faculdade de Teologia, já que para teólogos, no decurso dos século, sempre havia existido apoio financeiro. Após a assembléia geral de Nova Déli, na Igreja Evangélica na Alemanha surgiu a pergunta: como justificar que recursos financeiros eclesiásticos privilegiassem apenas um grupo de estudantes alemães, devidamente escolhidos. "Aumentam as considerações que sugerem se numa era de conscientização ecumênica mundialmente aprofundada não se deveria assumir, como tarefa especial capaz de abrir nosso horizonte ecumênico, uma promoção de estudantes talentosos e dignos, de todo mundo. (D. Hans Thimme, Leitende Gesichtspunkte, die zur Gründung und Entwicklung des Ökumenischen Studienwerks in Bochum führten. [Ms. 1992]).
Através da colaboração ativa de ex-bolsistas em diretoria, conselho, comitê de seleção e comissão para assuntos de recrutamento de funcionários, a ES-Villigst contribuiu de maneira decisiva ao processo da estruturação e do crescimento da ÖSW. O mais importante destes "pioneiros" entre os ex-bolsistas da ES-Villigst na ÖSW foi o Prof. Dr. Achim Schrader.
Realistas, os fundadores da ÖSW optaram muito cedo pela formação de jovens acadêmicos que em seu país de origem já tinham absolvido curso básico e que depois necessitavam de uma qualificação adicional. "A ÖSW está convencida de que no Terceiro Mundo o processo de independência e o alcance da auto-suficiência já esteja bastante avançado e que a responsabilidade da Igreja nos países altamente industrializados devia, hoje em dia, procurar o apoio aos pós-graduados." (Prof. Dr. Achim Schrader, Die Stipendienpolitik des Ökumenischen Studienwerks, Ansprache anläßlich des Festaktes des ÖSW am 15.12.1972)
O projeto original tinha em vista os estudantes ingressados na RFA, por sua conta, comprovado pelo planejamento original que previu, além da fundação de um "Studienkolleg" (Colégio com cursos propedêuticos para os principiantes entre os estudantes estrangeiros), todo um complexo de instalações, inclusive uma casa de estudantes. Em conformidade com os resultados dos debates sobre um apoio adequado ao desenvolvimento das nações pobres, esta idéia original foi gradativamente ajustada. Apesar de a idéia original, de instalar um Colégio com cursos propedêuticos para os principiantes entre os estudantes estrangeiros, sido mantida, ao mesmo tempo foi planejado um colégio para preparar estudantes estrangeiros graduados nas questões de idioma e metodologia, aspectos essenciais para a posterior realização dum curso de aperfeiçoamento na Alemanha. Eles podiam - argumentou-se - fazer seus estudos básicos no país de origem. Isso evitaria também o perigo da alienação cultural no estrangeiro.
Houve unanimidade de que, antes de tudo, justamente um programa da Igreja deveria considerar a possibilidade de que seus bolsistas absolvessem o curso básico no seu país de origem. Este princípio tornou-se um dos mais importantes critérios do Programa Ecumênico de Estudos (esp), formado pela Obra Diacônica (DDW) e a ÖSW. Já em 1966, um grupo de coordenação tinha proposto à diretoria coordenar todas as atividades da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD) que porventura existissem no setor de apoio financeiro aos estudantes, a fim de formar um único programa eclesiástico para estudantes oriundos de países em via de desenvolvimento. Esta recomendação tornou-se realidade quando em 1969 um "Acordo entre a Obra Diacônica em Stuttgart e a Obra Ecumênica de Estudos em Bochum sobre uma cooperação ecumênica no setor da formação relacionada ao desenvolvimento pôde ser ratificado." - OEKUMENE Gemeinschaft einer dienenden Kirche, Theodor Schober, Hermann Kunst, Hans Thimme (Hrsg.), Stuttgart 1983, Heinz Dressel, Ökumenische Zusammenarbeit bei der Ausbildung von Führungskräften - Ökumenisches Studienwerk e.V. Bochum ((ÖSW), S.243)
O PROGRAMA DE PARCERIA ACADÊMICA
A ÖSW resolveu apoiar projetos de pós-graduação, sendo que os candidatos deveriam ser recomendados por instituições parceiras antes criteriosamente selecionadas. "Vinculamo-nos a determinados parceiros ... através de convênios, o que se explica não apenas pelo fato de que os escassos meios financeiros disponíveis deverão ser aplicados economicamente, mas também para assim concretizar a solidariedade das Igrejas junto às instituições do Terceiro Mundo. Neste contexto está se colocando ênfase a tais parceiros que sejam universidades ou instituições do ensino superior, já que ficou comprovado que nossa idéia original, de dar apoio também a projetos em prol do desenvolvimento, através de específicas medidas pedagógicas, não ficou operável de forma mais ampla. A causa para isso encontra-se, antes de tudo, no fato de que os projetos em prol do desenvolvimento, mantidos pelo Estado ou também pela Igreja, são muito imediatistas para que pudessem ser calculados ou aguardados os relativamente longos períodos de maturação nos processos de formação e, também, porque a ideologia dos counterparts lá predominantes, em última análise, até impede uma formação adequada dos counterparts por nós apoiados." (Achim Schrader, Die Stipendienpolitik dês Ökumenischen Studienwerks)
Desde o início, a opção da ÖSW em favor do apoio aos acadêmicos altamente qualificados não careceu de uma forte oposição, inclusive dentro da própria Igreja. A Congregação Evangélica de Estudantes (ESG) já havia agitado durante o período de planejamento da ÖSW, empregando aquele jargão típico da juventude dos anos "68" contra este novo projeto. Na ocasião do lançamento da pedra angular do campus de Bochum (2.12.68), a ESG assumiu um papel bem característico do clima espiritual daquela época quando, em companhia do DCE e do SDS (Associação Estudantil Socialista Alemã), acusou a ÖSW como entidade "não-democrática, paternalista e neocolonialista". Nesta ocasião, o idealizador e presidente da ÖSW, o Presidente de Igreja D. Thimme, sem hesitar havia concedido o microfone aos jovens provocadores, a fim de que pudessem expressar seu confuso assunto em praça pública. Triunfou o velho princípio liberal: "Embora que não compartilhe sua opinião, vou fazer tudo que está dentro de meu alcance a fim de que possam expressá-la livremente." Cerca de 20 organizações - entre eles a Congregação Evangélica de Estudantes (ESG), a Associação Estudantil Socialista Alemã (SDS), o World University Service e a Associação de Organizações Estudantis Estrangeiras - lançaram na imprensa uma declaração acusando a ÖSW de `confessionalista´ ou seja `confessional´. A Associação dos Diretores, em Munique, (21.-24.5.70) lamentava que a ÖSW concede bolsas apenas a estrangeiros graduados que em seu país de origem já teriam começado um curso acadêmico (pós-graduados). (Vide "Clausthaler Hefte" Ausländerfragen, Caderno n. 8, 15.9.70, BOCHUM: ÖKUMENISCHES STUDIENKOLLEG - STELLUNGNAHMEN) Apesar desta polêmica, em 1.4.70, Dr. Peter Riecken foi incumbido da organização do Colégio Propedêutico (Studienkolleg) que em outubro de 1971/72 iniciou suas atividades, inclusive o primeiro curso de alemão para estudantes estrangeiros.
Naquele momento ainda não havia na ÖSW um funcionário responsável pelo programa de bolsas de estudo. Quando o autor destas linhas iniciou seu trabalho na ÖSW, em janeiro de 1972, sua tarefa mais urgente foi a de pôr em prática todas aquelas considerações tomadas anteriormente em relação a um viável programa de bolsas. No que se refere ao caráter do programa de bolsas, os fundadores da ÖSW, durante o período de planejamento e organização entre 1964 - 1971, tinham tomado a decisão de concentrar-se no apoio de jovens líderes provindos dos `países do sul´, cujas tarefas futuras exigiam estudos adicionais para aperfeiçoar seus conhecimentos científicos e profissionais. Não apenas levando em conta a assimilação de qualificações e conhecimentos aplicáveis, ainda não disponíveis nos respectivos países de origem dos bolsistas ecumênicos, durante seus estudos adicionais estes deviam ser motivados, como também deveriam adquirir uma atitude de reflexão crítica, que lhes seria útil no melhor entendimento dos problemas de sua profissão, de seu país e dos problemas dos países no hemisfério sul, e na procura por alternativas praticáveis em seu contexto específico. Pelo menos durante a década 70 o Programa de Parceria Acadêmica, concebido nesta filosofia, tornou-se o pilar de todo o programa. Prof. Schrader foi o inspirador principal deste programa.
ÍNDIA
Em fins de 1970, P. Hermann Jäger, pessoa responsável pela seção de bolsas da Obra Diacônica, Stuttgart (DDW), tinha percorrido a Índia, país que, após seu retorno, recomendou à ÖSW como lugar de excelência para aplicar o Programa de Parceria Acadêmica, justificando esta escolha com os laços tradicionais entre a Índia e as Igrejas da Alemanha, que há séculos haviam contribuído de maneira significante ao sistema educacional daquele país. Entre os cerca de 3.500 colégios na Índia, encontravam-se 180 "Christian Colleges". Estes tinham se associado na ALL-INDIA ASSOCIATION FOR CHRISTIAN HIGHER EDUCATION (AIACHE), dirigida pelo secretário geral, Padre Mathias SJ, pessoa recomendável para conselheiro e parceiro de destaque na execução do Programa de Parceria Acadêmica. Os colégios cristãos careciam de docentes bem qualificados.
A ÖSW empenhou-se desde fins de 1971, visando a uma parceria acadêmica com AIACHE, que tinha recebido uma oferta de 5 - 10 bolsas para os 5 anos subseqüentes. Em 19.6.72, o Comitê de Seleção aprovou os primeiros candidatos a bolsa, os quais chegaram no campus de Bochum no começo do semestre de inverno de 1972/73, entre eles P. Joy, B. R. Venkataram e S. Manickam. Os colégios escolhidos nos marcos do Programa de Parceria Acadêmica, na Índia, eram o Lucknow Christian College, o Ewing Christian College (Allahabad), o Mar Thoma Christian College (Tiruvalla) e, mais tarde, o prestigiado Madras Christian College (Tambaram).
ZÂMBIA
Na fase experimental do Programa de Parceria Acadêmica, ratificou-se um "Formal Agreement" com o Ministry of Education, que teve em vista uma colaboração no setor da educação acadêmica. Em 1972 a ÖSW aprovou 14 bolsistas; 3 deles da área de Educação, da Engenharia Química e da Economia no contexto do Desenvolvimento; 2 da área de Construção Civil, 1 da área da Arquitetura, 1 da área da Engenharia Mecânica. 6 desses bolsistas realizaram seu curso de especialização na RFA, enquanto os outros estudaram ou in loco, ou no Reino Unido. Não demorou muito até que este programa morreu, mas ressuscitou em outra forma em função do diálogo com o CCZ, de forma que, até o começo dos anos 90, nada menos que outros 22 estudantes das áreas Biologia, Química, Física, Matemática, Educação, Engenharia, Telecomunicação, Arquitetura, Agronomia e Sociologia puderam participar do programa, cerca de dois terços deles freqüentando cursos de especialização na própria África. UNIVERSITY OF BOTSWANA, LESOTHO AND SWAZILAND - UBLS
Alguns anos mais tarde, o Programa de Parceria Acadêmica na África foi estendido à University of Botswana, Lesotho and Swaziland (UBLS), da qual no decurso dos anos emergiram três universidades autônomas, a National University of Lesotho (NUL), a University of Botswana e a University of Swaziland. A ÖSW apoiou os projetos de estudo de cinco bolsistas de Gaborone nas áreas de Matemática, Física, Literatura Inglesa, Filosofia e Teologia (Obed N. O. Kealotswe), na Grã-Bretanha e no Quênia. Sete membros do corpo docente de Roma (NUL) tornaram-se bolsistas da ÖSW e faziam cursos de pós-graduação, em Nairobi e Dublin, em Literatura Africana, Educação, Pedagogia, Estudos Sociais, Estudos Jurídicos, Building Economics e Desenvolvimento de Sistemas. Quatro membros da equipe da University of Swaziland gozaram do apoio da ÖSW para freqüentar cursos adicionais nas áreas de Geografia, Relações Internacionais, Teologia e Eletrônica, na RFA ou no Reino Unido, respectivamente.
AMÉRICA DO SUL
Quando as atividades do programa da ÖSW começaram, já havia excelentes contatos com instituições latino-americanas, graças às atividades preparatórias do Conselheiro de Igreja Dr. Reinhart Müller, P. Jens Timm e a prestigiosa colaboração do Prof. Dr. Achim Schrader, a quem logo incumbiu-se os cargos de presidente do Conselho e de presidente do Comitê de Seleção; Dr. Reinhart Müller, anteriormente Pároco da Comunidade Alemã da Cidade do México, estabeleceu valiosos contatos junto às universidades hispanófonas (Universidad del Valle, Cali e Universidad Austral, Valdivia).
UNIVERSIDAD DEL VALLE CALI/COLUMBIA
Na primeira década das atividades da ÖSW - com a ajuda do Prof. Kümmel e do P. Honecker - ambos na cidade de Cali - e devido à colaboração efetiva de Dr. Achim Schrader - pôde-se fazer os primeiros passos que levariam à organização do Programa de Parceria Acadêmica em colaboração com a Universidad del Valle. Tudo isso aconteceu justamente em momento onde as autoridades desta universidade pensavam em abandonar a tradicional prática de enviar seus estudantes aos cursos de pós-graduação nos Estados Unidos, simplesmente fazendo uso da assistência oferecida ou pela Rockefeller - ou pela Fundação Ford. A ÖSW apoiou os seguintes docentes de Cali: Jaime Millan, Diego Roldán Luna, César Augusto Garcia Cano, Pedro Antonio Prieto Pulido, Alvaro Campo Cabal e Elsa, Graciela Valderama, Fabriciano Diaz, Otto Vergara, Nelson Porras e Orlando Escobar Zuñiga.
UNIVERSIDAD AUSTRAL VALDIVIA /CHILE
Por incumbência do Programa Ecumênico de Bolsas (esp), em 1971, P. Jens Timm, da Obra Diacônica Stuttgart, visitou instituições em Venezuela, Columbia, Peru, Chile, Argentina e Brasil como também começou negociações com a Universidad Austral em Valdivia. Foram os primeiros bolsistas de Valdivia: Edith Berger e Pedro Fernández de la Reguera (Matemática); Diner Moraga (Física) e sua esposa Feliza (Filosofia); Andrés Contreras e Fernando Medel Salamanca (Estudos Agrários); Jorge Sommerhoff (Sonóloga); Karin Schoebitz (Química); Frederick Ahumada e Oscar Araya (Veterinária); Jorge Paul Villaseca Ribbeck (Eletroacústica).
BRASIL - PAÍS DE ÊNFASE PRINCIPAL
Na fase de planificação da ÖSW, uma comissão ad hoc havia elaborado um "catálogo de países" que foi de grande utilidade no início do trabalho. Com o decorrer dos anos, esse instrumento ficou desafiado e antiquado diante do desenvolvimento geral. Neste remoto plano de ação, entre cujos autores também se encontra Dr. Achim Schrader, o Brasil figura entre os países de "primeira prioridade". A comissão tinha pensado na disparidade social deste país, que se refletia também no setor da educação. Ficou expressamente salientado que somente universidades e projetos no Sul e no Norte ou Nordeste podiam ser apoiados. No Sul, onde se podia contar com a colaboração da IECLB e a profunda experiência de Dr. Schrader, rapidamente conseguiu-se cooperação com as universidades UFRGS, UFSC e com o projeto em prol do desenvolvimento FIDENE - Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação no Noroeste do Estado. No Nordeste, concretamente junto à UFPe, perpassam dois anos até que surgiram os primeiros bolsistas. Em cooperação com estas instituições de educação superior pôde-se fazer as primeiras experiências com o Programa de Parceria Acadêmica.
O primeiro secretário do programa de bolsa - que, depois de 15 anos de serviço pastoral, estava bem entrosado e bem a par da situação no continente latino-americano - ficou bastante satisfeito que a diretoria, seguindo uma recomendação do comitê ad hoc, decidiu começar com a organização de programas justamente neste continente. Novato no contexto da assistência educacional ecumênica, para ele, sem dúvida alguma, a escolha de Brasil, Chile e Colômbia, como campo de ação, tornou a tarefa mais fácil do que teria sido o caso com um eventual projeto piloto na Indonésia ou em Malawi.
FIDENE
1971, após uma visita em Ijuí, Dr. Schrader caracterizou a Fundação de Integração, Desenvolvimento e Educação no Noroeste do Estado (FIDENE), dirigida pelo capuchinho Mário Osório Marques, como "o centro espiritual da maior e mais efetiva cooperativa no interior da região sul do Brasil. Trata-se duma cooperativa de produção agrícola. Nos anos que precederam ao golpe de 1964, em cooperação com uma instituição para a formação de professores de segundo grau, ou seja, a Faculdade de Filosofia do lugar, tentou introduzir um programa de desenvolvimento comunitário. Ao desenvolver este programa, fundou-se nos subúrbios das pequenas cidades agrárias associações de vizinhos, e nos lugarejos rurais como nas vilas juntaram-se os sócios em círculos de discussão e trabalho. Neste contexto, toda uma porção de projetos surgia das próprias bases que também os levou ao nível de realizações através da cooperativa. Não podia faltar que tudo isso, de momento, criava um clima de desconfiança e suspeita do lado do governo militar, assim que, numa visita em 1968, observei que um número de líderes, cabeças do movimento, ou se encontravam presos ou privados da venia legendi. Neste meio tempo, a situação melhorou devido ao fato de que a cooperativa se tornou empresa importante de produção de trigo que há dois anos se estende numa região do campo tradicionalmente pecuário. O governo concedeu também voltou a conceder à FIDENE todas as liberdades de atuação. Atualmente organizam-se com regularidade, nas diversas filiais e na própria sede, cursos para agricultores e operários, que de fato não se limitam a assuntos ligados ao cooperativismo, mas que além disso pretendem abrir à população rural uma visão mais global deste mundo cada vez mais complexo. A Fundação mantém um instituto de pesquisa e planejamento que não apenas lida com demandas da cooperativa (p. ex., sobre a construção duma linha lateral da estrada de ferro), mas, de modo crescente, também com demandas do governo e de organizações, oferecendo ajuda ao desenvolvimento. No setor pedagógico da Fundação, no decurso do tempo, foram introduzidos outros cursos além daqueles que levam ao magistério; prepara-se os estudantes para sua responsabilidade pelos problemas da região do interior." (Prof. Dr. Achim Schrader REISEBERICHT Lateinamerika 1971)
A boa relação entre os parceiros ÖSW e FIDENE, de início, foi entendida como colaboração com um projeto em prol do desenvolvimento, que, antes de tudo, procurava formar líderes em todos os níveis, os quais - também como docentes - poderiam colaborar em projetos lidando com o planejamento, ou assistir à administração pública, como conselheiros competentes. Originalmente fizeram parte do convênio com a ÖSW as Faculdades de Filosofia e Ciências Econômicas, os institutos de Educação Permanente, Pesquisa e Planejamento como também de Documentação. Em 1972 o Comitê de Seleção concedeu ad hoc 5 bolsas in loco, e, durante as 2 décadas seguintes - neste meio tempo, da FIDENE havia emergida a universidade regional UNIJUÍ -, mais do que 30 bolsas in loco como na França e na República Federal da Alemanha, nas seguintes áreas acadêmicas:
Ciências Agrárias (3) Administração de Empresas (4); Bioquímica (1); Biologia (1); Ciência dos Solos (1); Botânica (1); Química (2); Community Development (1); Nutrição (1); Pedagogia (1); Geografia (2); História (1); Informática (1); Tecnologia de Alimentos (1); Lingüística (2); Matemática (1); Ecologia de Conservação do Ambiente (1); Filologia (1); Filosofia (1); Física (1); Ciências Políticas (2); Psiquiatria (1); Psicologia (1); Psicopatologia (1); Ciências de Planejamento Regional (1); Sociologia (2); Estágio em Administração (1); Economia (2); Teoria da Economia (1); Ciências Econômicas (1); demais cursos. Os bolsistas de então, Adelar Francisco Baggio, Telmo Rudi Frantz e Walter Frantz exerceram consecutivamente o cargo de reitor da UNIJUÍ. Na segunda parte da década dos anos 90, Dr. Telmo Rudi Frantz foi nomeado Secretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio Grande do Sul.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL - UFRGS
O programa de pós-graduação, organizado em cooperação com universidades brasileiras, considerado preeminente pela diretoria da ÖSW, começou através da cooperação da ÖSW com a UFRGS. Visando a este programa, em 1971 o Prof. Schrader informara que cogitava-se no Brasil a idéia de se livrar da prática usual de importar docentes universitários de fora, e de mandar acadêmicos ao exterior a fim de lá freqüentarem cursos de aperfeiçoamento. Esta nova orientação estaria sendo apoiada também pela oposição brasileira. O governo teria formado cinco comissões regionais incumbidas do reconhecimento de cursos de pós-graduação nas universidades apropriadas do país. Além de Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte, cogitava-se Recife, no Nordeste, e Porto Alegre, no Sul, para centros de pós-graduação. Enquanto que, no contexto dos programas de desenvolvimento executados pela SUDENE, o Recife repetidas vezes teria recebido meios financeiros para poder instalar cursos de pós-graduação, o Sul teria sido desconsiderado. Por isso, recomendou-se à ÖSW dar atenção especial à organização de cursos de pós-graduação no Sul. Em Porto Alegre, a UFRGS mostrara-se interessada em instalar cursos de pós-graduação na área das Ciências Sociais, entre outras.
"No que se refere às Ciências Sociais, aconteceram diálogos com o chefe do departamento de Ciências Sociais, Prof. Luis Alberto Cibils. Os preparativos ligados à organização de cursos de pós-graduação estão quase terminados. Constata-se, porém, tremenda falta de professores universitários. Cogita-se a idéia de convidar temporariamente docentes doutores, da Alemanha, para professores universitários. Mas isso não pode resolver o problema definitivamente, já que objetivo deste programa de implantação de cursos de pós-graduação é livrar-se da esmagadora influência estrangeira. Desta maneira, torna-se imprescindível preparar, imediatamente e a curto prazo, o potencial disponível para as futuras funções do corpo docente da universidade, através de estudos adicionais no estrangeiro. Se, na qualidade de Obra Ecumênica de Estudos, podermos apoiar universidades brasileiras nesta situação de emergência, podemos desta forma dar contribuição eficaz ao processo de desenvolvimento, que de maneira toda especial salienta o desempenho da Igreja, e que também encontra extraordinário reconhecimento público." (Achim Schrader REISEBERICHT Lateinamerika 1971)
Após - em reunião de 23.11.71 do Comitê de Bolsas - ser aprovada em termos gerais a solicitação de estabelecer uma cooperação com a UFRGS e de UFSC por um prazo de 3 - 4 anos, foram aprovados vários candidatos da UFRGS, já antes de ser ratificado um convênio formal sobre uma parceria: Maria Susana Soares Arosa, José Vicente Tavares dos Santos e Henrique Richter (Ciências Sociais); José António Tavares Giusiti e António Carlos Pojo do Rego (Políticas Públicas); Sérgio Texeira Alves (Antropologia); Regina Helena Souza de Araújo Ribeiro (Administração Educacional), sobretudo para fins de pós-graduação etc., na UNAM, na Cidade do México. Além disso, foi apoiado Manfredo Berger, em Bielefeld/RFA (2.71-2.73). A publicação póstuma de sua dissertação - Educação e Dependência - DIFEL 1976 (revisão técnica por Berlindes Astrid Küchemann - outra ex-bolsista da ÖSW) - pôdee ser realizada por mérito especial do Prof. Schrader. No decurso dos anos, toda uma turma de candidatos provenientes da UFRGS foi apoiada, para fins de especialização nas áreas: Arquitetura (1); Geografia (1); Filosofia (1); História (3); Ciências Econômicas (3); Estatística (1); Informática (1); antes de tudo, porém, das áreas das Ciências Sociais/Sociologia (16), e Ciências Políticas (11).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA EM FLORIANÓPOLIS - UFSC
Por ocasião de visita feita à Conferência de Reitores da Alemanha Ocidental, o reitor da UFSC, Ferreira Lima, visitou também a ÖSW Bochum. Em 1973, ratificou-se uma parceria formal, da qual usufruiram os bolsistas apoiados pela ÖSW: Dirceu Mattozo (Processamento Eletrônico de Datas), Louis Roberto Westphal (Administração Pública e Sociologia), Arno Bollmann e Nelson Diógenes do Vale (Engenharia).
UNIVERSIDADE FEDERAL DE ESPÍRITO SANTO - UFES
Em 1975, o autor realizou uma visita a Vitória/Espírito Santo e conferenciou com o reitor Dr. Manuel Ceciliano Salles de Almeida, a Prof.a Euzi Morães (Coordenadora do Programa de Pós-Graduação), Prof. Claude Labrunie e Prof.a Sibila Baeske. Na universidade havia 6.500 estudantes inscritos, atendidos por 727 professores ordinários e extraordinários, dos quais apenas 35,6 % possuíam o certificado de conclusão do curso de graduação; 40 % haviam freqüentado curso de especialização; 24,4 % possuíam o título de mestre ou doutor. A partir de 1968 foi oferecido um bom programa visando à especialização do corpo docente, apoiando os professores que desejavam adquirir melhor qualificação através da participação em cursos de mestrado no próprio país ou de programas de doutoramento, antes de tudo no estrangeiro Devido a atrasos ligados a problemas de caráter político, como a substituição de reitores, a flutuação na administração da UFES, e também certas discussões internas na ÖSW, só a partir de 1979/80 surgiram, ao todo, 11 candidatos de Vitória, entre eles Antonio Carlos Ortega (Psicologia) e Conceição Santos Silva (Biologia) aos quais se concedeu bolsas de estudo da ÖSW nas áreas de Ciências Agrárias, Hidrogeologia, Pedagogia, Planejamento Regional, Psicopatologia, Matemática, Filosofia e Filologia. Aquilo que o Prof. Dr. Achim Schrader quase 10 anos antes tinha constatado, refletiu-se também em Espírito Santo: "Nesta altura ainda não é possível declarar que a liberdade de cátedra tenha sido recuperada. Além disso, nota-se que um número elevado de professores universitários ainda se encontra no estado de aposentadoria decretada e, alguns deles, punidos com a cassação da venia legendi. Por outro lado, nem a oposição nega que o crescimento econômico dos últimos dois anos beneficiará a infra-estrutura do país e, com isso, a longo prazo também as camadas mais modestas da população. Progresso econômico e liberdade intelectual parecem necessariamente excluir-se na presente fase de desenvolvimento. Se, por outro lado, o país, nos próximos anos, não sofrer um enpobrecimento intelectual, nós que somos cidadãos de países livres, estamos conclamados a ajudar. Por um lado, esta ajuda poderia manifestar-se no apoio a cientistas brasileiros (da mesma forma, a argentinos, venezuelanos, bolivianos e colombianos), a fim de que e possam freqüentar cursos de especialização na Europa. Pode-se esperar que a situação melhore; os primeiros sinais já podem ser notados. Mas o processo de liberalização vai se estender por muito tempo e se não nos engajarmos justamente neste momento, vão se criar muitos obstáculos para muitos talentos." (Achim Schrader, REISEBERICHT Lateinamerika 1971)
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE
Em seu pronunciamento, o reitor Prof. Paulo Frederico do Rego Maciel destacou haver influência norte-americana esmagadora no Recife, e que, por isso, a presença alemã atualmente seria desejável, tanto mais, quanto através da transferência do Prof. Vamireh Chacon à Universidade de Brasília teria ocorrido uma enorme lacuna. Teria extraordinário interesse em poder mandar jovens acadêmicos da área da história à RFA, a fim de que pudessem se entrosar, antes de tudo, na metodologia da ciência de história alemã. A pergunta do nutricionista Prof. Dr. Nelson Chaves sobre a viabilidade de incluir no programa também uma disciplina da área das Ciências Naturais tinha que ser respondido de forma negativa, devido a decisões anteriormente tomadas pela diretoria da ÖSW. Com o Prof. Armando Souto Maior - Departamento de História - chegou-se a acordos junto aos detalhes da cooperação. Os representantes do Departamento de História, que começaram com seus respectivos cursos de especialização em Bielefeld e Nürnberg/Erlangen foram Maria do Socorro Ferraz Barbosa, Leonardo Manoel Carneiro da Cunha Holanda, Terêsa Cahú Brotherhood de Oliveira, Luiz do Nascimento, Maria da Guia Santos, Ana Maria Barros dos Santos. Três deles alcançaram o objetivo de fazer o doutorado na própria RFA, outra, mais tarde, na USP em São Paulo.
O CONSELHO
Após o departamento de bolsas da ÖSW ter concluído os trabalhos de planejamento e antes que a diretoria tivesse ratificado convênio de parceria, um estudo de viabilidade de convênio devia ser realizado. Não era recomendável, porém, que se submetesse um processo de convênio ao critério de representantes estudantis, presentes no Comitê de Seleção (ironicamente fora o próprio Prof. Dr. Achim Schrader que, em 1971, conseguira o direito de voto deles nos grêmios da ÖSW!). Obviamente como resultado de um "mandato imperativo", muitas vezes votavam em bloco, como também os representantes da ESG (Congregação Evangélica de Estudantes) mal dispunham de conhecimentos realistas e mais profundos, todavia necessário para a tomada de decisões. Da diretoria, ao solicitar decisão a respeito de determinado convênio de parceria, não se devia exigir demais; por isso o Prof. Schrader fez a proposta de formar um Comitê da diretoria, ou melhor um Conselho para o departamento de bolsas, que não seja tão numeroso e inflexível como o Comitê de Seleção, porém, com a necessária competência com respeito aos assuntos a serem tratados. Esse conselho foi incumbido da tarefa de aconselhar de modo permanente o departamento de bolsas em assuntos de planejamento e execução de convênios de parceria, e, também, de preparar as decisões a serem tomadas pela diretoria.
A POLEMICA SOBRE O PROGRAMA DE PARCERIA ACADÊMICA
Dentro da Igreja não faltou forte resistência contra a formação de acadêmicos altamente qualificados. No Comitê de Seleção formou-se, em volta do representante da Conferência dos Pastores para Estudantes, uma aliança pouco santa com demais adversários do Programa de Parceria Acadêmica, o qual fortemente criticaram ou até rejeitaram por causa dos altos custos envolvidos devido aos longos prazos de estudos. Uma exceção louvável entre os representantes da ESG fez Christian Wendt, natural do Brasil, possuindo assim uma imagem realista dum "país em via ao desenvolvimento", terminologia entre os "burocratas de desenvolvimento" naqueles dias. Também do DDW sempre emergia a opinião de que universidades públicas não deveriam ser os parceiros genuínos, nem as bolsas para projetos de pós-graduação deveriam dar o campo de atuação da Igreja. Dar prioridade ao programa de pós-graduação dentro do projeto da ÖSW significaria ignorar a realidade dos países em via ao desenvolvimento. Enquanto a finalidade do Programa de Parceria Acadêmica seria a celebração de convênios com universidades públicas e a qualificação de professores acadêmicos (doutorado), este não poderia ser reconhecido como tarefa da Igreja alemã. Os representantes do programa do Departamento de Ajuda Internacional da Igreja Evangélica da Alemanha (KED) apoiavam jovens estudantes estrangeiros que haviam ingressado na RFA por conta própria: exilados e necessitados. Atuavam neste sentido no Comitê de Seleção durante muitos anos. No entanto, o Programa de Parceria Acadêmica foi o único programa que realmente combinava com a ÖSW, na forma em que esta foi criada. Jamais alguém havia articulado qualquer alternativa aceitável a este programa. Não podia ter dúvidas de que a ÖSW, ao médio prazo, poderia existir só com o Programa de Parceria Acadêmica, pois só este poderia garantir a estabilidade e o equilíbrio do programa, sem os quais não teria sido possível de planejar e dirigir as atividades da ÖSW. O Programa de Parceria Acadêmica certamente não foi pior do que o programa de apoio aos estudantes que tinham entrado na RFA espontaneamente, ao próprio risco deles, programa com que o DDW havia convivido sem problemas durante muitos anos. Pode-se, porém, perguntar, qual foi o paradeiro dos bolsistas deles. Os resultados que prometia o Programa de Parceria Acadêmica eram bastante melhores. Não obstante, o Programa de Parceria Acadêmica, cuja organização por boas razões ficou determinada na fase do planejamento da Obra Ecumênica, viu-se permanentemente em discussão porque alegavam ser "caro demais" e que daria apoio aos "privilegiados", e isto particularmente para latino-americanos, e porque entre os candidatos latino-americanos haveria "demais católicos" (aliás fato que devia ter sido previsível desde o planejamento do programa). Em vista da aversão - que se notava inclusive dentro dos próprios grêmios da Obra - contra a policy da ÖSW, foi lícito duvidar se o programa de bolsas era de fato visto como ajuda ao desenvolvimento e apoio à educação, ou talvez como instrumento político da própria Igreja. Era evidente que um apoio à educação que seja realmente relevante para o desenvolvimento devia ser prestado com maior entusiasmo e menos dirigismo e paternalismo, como também num espírito mais aberto junto aos não-protestantes e não-cristãos. Não devia haver tantos escrúpulos nutridos por um pessimismo ocidental mórbido; o que se precisava era muito mais coragem, acompanhada pelo reconhecimento de que não seja lícito que uma responsável ajuda ao desenvolvimento parasse perante fronteiras da confissão ou da religião.
DESEQUILÍBRIO CONFESSIONAL E CONTINENTAL
O engajamento da ÖSW na América Latina e especificamente no Brasil, que no começo dos anos 70 foi decidido pela diretoria, significava per se, que também bolsistas católicos podiam, com peso, fazer parte do programa, fato que a estatística de confissões comprovou. Ao número de católicos anteriormente "previsto", devido a situação política no Brasil e Chile nos anos 70 agregou-se elevado número de bolsistas católicos integrados no Programa da ÖSW para refugiados. Irritado pela elevada proporção de católicos entre os bolsistas, em 1974, alguns representantes de Igrejas regionais expressaram suas preocupações junto à "Estatística de Países e Confissões". Diante disso, a diretoria deliberou ser necessário uma correção do atual desequilíbrio na composição continental e confessional de bolsistas. Muita gente entendia o engajamento da Igreja na sociedade como serviço prestado apenas à "sociedade cristã", melhor - só à "sociedade de confissão evangélica". Desta forma a diretoria salientou "que a ÖSW não pensava apenas na sociedade, mas deveria também atuar em prol da Igreja." Na primavera de 1975 o tema do vínculo religioso ou confessional dos bolsistas foi posto na agenda de novo, após que parte dos membros da diretoria se queixara da amplitude ecumênica, ou, assim outra parte, da suposta estreiteza do programa de bolsas. Desta maneira discutiu-se enfaticamente a pergunta como devia ser interpretado o termo "ecumênico" no contexto da seleção de bolsistas da ÖSW. A questão da formação de candidatos católicos devia ser repensado. Dentro do programa, não-cristãos deviam ser melhor representados do que os católicos, já que as chances dos não-cristãos para ganhar uma bolsa seriam mais escassas. De maneira bastante sibilina, a diretoria propôs as seguintes proporções "como regulamento geral": 5 - 15 % de católicos, não mais do que 25 % de não-cristãos. Dr. Schrader foi incumbido com a tarefa de ventilar a possibilidade de co-responsabilizar Misereor com referência ao financiamento dos bolsistas católicos. Em relatório do autor desta ao Comitê de Seleção, de fins de 1975, o assunto foi novamente mencionado: Na ocasião duma consulta junto ao Serviço Acadêmico Católico para Estrangeiros (KAAD) na cidade de Aachen, ficaram evidentes os objetivos diferentes de ambas as instituições: o primeiro critério do programa do KAAD é o aspecto caritativo, todavia ligado a aspectos políticos em prol do desenvolvimento. A prática da ÖSW de, intencionalmente, convidar estudantes do além-mar para absolverem estudos na RFA distingue-se fundamentalmente das intenções do KAAD que até então convidou somente pouquíssimos bolsistas à Alemanha. O programa da ÖSW, que dá ênfase principal ao aspecto de promoção do desenvolvimento, visa ao apoio de acadêmicos convidados à Alemanha a fim de realizar um projeto de pós-graduação. O programa da ÖSW tem que ser projetado de antemão, a longo prazo. O apoio a estudantes estrangeiros que já se encontravam na RFA estaria ignorando estes objetivos. No diálogo com o KAAD ficou evidente que uma participação - financeira ou institucional - no programa da ÖSW não era possível. De fato, o diálogo não tinha nenhum efeito.
No início de 1976, o debate sobre o aspecto do ecumenismo foi recomeçado no Conselho e chegou a uma definição satisfatória do termo "ecumenismo", ao lembrar-se da manifestação da diretoria do mês de março de 1975: "+Ecumenismo* significa não apenas +Conselho Mundial de Igrejas*, tampouco +somente cristãos*." Em carta do presidente (20.3.75) podia-se ler que a proporção dos católicos "não deveria exceder cerca de 10 %." Neste meio tempo porém, existia também uma manifestação da parte do Comitê de Seleção (18.11.7), dizendo: "Exige-se da diretoria da ÖSW que seja possível também no futuro dar apoio a um numero razoável de aptos candidatos católicos." Foi uma carta (11.12.74) do National Council of Churches, em Quênia, dirigida à diretoria, que neste contexto ganhou importância: "Our basic approach seeks to consider individuals regardless of their background. The Committee tries to assist Catholics as well as Protestants." No NCCK, instituição parceira da ÖSW em Quênia, a Igreja Católica-Romana - cujo membro era também o presidente Julius K. Nyerere - fez parte do Conselho Nacional de Igrejas. Deste modo não era de estranhar que de lá chegaram protestos contra qualquer tratamento diferente de protestantes e católicos no Programa Ecumênico de Bolsas (esp).
Atendendo a uma solicitação de vários membros do Conselho, em fevereiro de 1988 um tópico obviamente bastante grave ocupou espaço na pauta: "A questão da admissão de adeptos de religiões não-cristãs no programa da ÖSW". Aconteceu que, naquele período, os parceiros da ÖSW no contexto do Programa de Parceria Acadêmica eram predominantemente instituições de educação superior na Ásia, mantidos pelas Igrejas. Nesta região as Igrejas eram minoria perante as respectivas religiões mundiais. Isso exigia das Igrejas e de suas instituições educacionais atitude política sábia e tolerante na Índia (Hinduísmo e Islã), Indonésia (Islã e Budismo), Tailândia (Budismo) e na Coréia (Confucionismo).
A estatística comprova que a percentagem dos respectivos bolsistas da ÖSW, dentro do programa global oscilava nos anos de 1975 - 1981 entre 6,5%, e 13,30%, nos anos de 1982 - 1987. Em 1988, a percentagem era de 10% exatamente; aliás, percentagem que combinava completamente com os princípios defendidos e aplicados por outros programas e organizações da Igreja como Pão para o Mundo, Serviços de Além-Mar (DÜ), Central Evangélica de Ajuda ao Desenvolvimento (EZE), KED e EMW, que fazem parte da Associação de Serviços da Igreja em prol do Desenvolvimento - Arbeitsgemeinschaft Kirchlicher Entwicklungsdienst (AGKED).
Um painel estatístico sobre a distribuição de crenças, do mês de janeiro de 1988, revelou: Tinha 1 bolsista adepto do Islã (1,11 %), 6 do Budismo (6,67%), 7 das "religiões mundiais" - menos o Cristianismo - (7,78%); 2 "sem religião" (2,22%), o que significa que entre os bolsistas tinha exatamente 9 não-cristãos (10,00%). Tinha 11 bolsistas membros da Igreja Católica-Romana (12,22%), 70 bolsistas eram "outros cristãos" (77,78%), totalizando 81 cristãos (90,00%) entre 91 bolsistas (100,00%) .
QUEIXA DEVIDO A ELEVADA QUOTA DE BRASILEIROS
Diante da queixa constante de que houvera "quota exagerada" de brasileiros dentro do programa de bolsas da ÖSW, lembrou-se novamente que os críticos teriam olvidado que a causa da alegada "quota elevada de brasileiros e latino-americanos" deviam-se a fatores tão extraordinários como os da repressão contra organizações estudantis, e do golpe no Chile. Por motivos humanitários, a diretoria tinha concedido à organização de assistência aos refugiados das Igrejas protestantes na França (CIMADE) uma quota de 10 bolsas da ÖSW para exilados e tampouco podia fechar-se, quando lhe chegavam gritos de emergência urgentes, diretamente do Brasil, e assim, sem distinguir entre pessoas, credos religiosos, nacionalidades ou da respectiva filiação política, aceitou toda uma turma de refugiados. Entre os refugiados chilenos tinha - por motivos conhecidos - também um número de brasileiros. Aliás, em fins dos anos 80, os mesmos grêmios que antes haviam polemizado contra a "representação excedente dos brasileiros" criticavam que a América Latina estaria "sub-representada". Nota-se bem que as instituições não dispõem de memória! Em maio de 1990, dos 104 bolsistas, 41 eram da África, 57 da Ásia e 6 da América Latina (2 deles brasileiros).
QUERELAS IDEOLÓGICAS
Nos anos 70, tampouco faltavam ataques por motivos ideológicos provenientes do lado marxista contra a colaboração da ÖSW com universidades públicas no Brasil (e Chile!), apesar de que o autor destas sempre insistira que as atividades da ÖSW não deveriam ser entendidas como sinal da solidariedade com um determinado governo ou com um determinado sistema político, mas que através destas atividades a ÖSW, de forma totalmente autônoma, intentara testemunhar solidariedade com o povo, que não deveria ser identificado com o atual governo. Porém, não havia jeito de conquistar a simpatia para sutilezas desta espécie, antes de tudo, dos representantes estudantis e dos representantes da ESG (Congregação Evangélica de Estudantes) ou de outros componentes ideologicamente militantes dos diversos grêmios .
A ARGÜIÇÃO DE PRIVILEGIAR ELITES
Apesar dos extraordinariamente difíceis problemas relacionados com o Programa de Parceria Acadêmica, o Prof. Schrader, devido s sua própria experiência, durante estes acerca de 10 anos da "época pioneira" prontificou-se a atuar como "navio quebra-gelos", por assim dizer. Em seu tempo foram tomados algumas das mais importantes decisões para o futuro do programa. Em palestra proferida por ocasião de um ato solene, no dia 15.12.1972, Dr. Schrader apontou "quais as atividades que estão sendo executadas pela ÖSW e quais as teorias que orientam sua atuação."
Referiu-se à acusação "de estarmos contribuindo à formação de elites. Mas esta alegação nos atinge apenas hipoteticamente. Pois deve-se contrapor a esta acusação o fato de que: 1) diminui a confiança na equação Mais gastos no setor de educação = mais desenvolvimento e, 2) independente dos diferentes tipos de ordem social, sempre se precisa pessoas, indivíduos humanos, para iniciar movimentos inovadores. Somente uma instituição particular como a nossa, cujo único compromisso é o da solidariedade com outros seres humanos, será capaz de demonstrar a autonomia sociopolítica que permite apoiar da mesma maneira um zambiano que provém dum sistema neo-socialista como também um brasileiro que provém de sistema de capitalismo privado de caráter tecnocrata. A crescente divisão de trabalho na sociedade no mundo inteiro, que pode ser observada - independente da ordem social porventura instaurada - exige a presença de camadas socais altamente especializadas. Se estas camadas também estão providas de poder e influência, seria uma outra pergunta. É a nossa tendência - e isso para nós também é uma forma de cristianismo praticado - de apoiar pessoas justamente quando não podem ocupar sua posição social que lhes seja conveniente, devido a suas atitudes. Embora que não defendemos o princípio "São os homens que fazem a história", somos suficientemente realistas ao reconhecer de que movimentos revolucionários ou reformistas tampouco podem suceder sem que haja pessoas altamente especializadas. Está bem claro que não damos apoio a projetos de especialização, quando estes favorecem a estabilização de poderios que impeçam a humanização da sociedade.
Como sempre, há cursos que se freqüenta de preferência e com mais proveito na República Federal; trata-se, além de certos cursos da área das Ciências, de muitos cursos da área das Ciências Sociais e Humanas onde o estudante pode-se familiarizar com a tradição do pensamento da ciência alemã ou onde ele se pode se afastar da zona de influência de manipulação ideológica norte-americana ou soviética. Por fim, também há cursos que, por causa da doutrina ou do caráter do bolsista, até melhor podem ser feitos em outro país europeu ou até no além-mar. Orgulhamo-nos um pouco de possibilitar a escolha para nossos bolsistas conforme estas considerações, sem que sejamos obrigados a privilegiar o prestígio nacional da República Federal da Alemanha ou de suas Igrejas às custas dos interesses de nossos bolsistas."
"É a opinião da ÖSW, que tendencialmente já há progredido uma autonomia do Terceiro Mundo no campo dos estudos básicos e que, hoje em dia, a responsabilidade das Igrejas nos países altamente industrializados deve ser dirigida também ao setor da promoção de pós-graduados." "Parece que os países do terceiro Mundo, inclusive por impulso próprio, cada vez mais preferem cursos breves, cursos de especialização. Um sociólogo brasileiro que há pouco nos visitou caraterizou esta atitude com a fórmula: Queremos vossa metodologia, mas a solução de nossos problemas é que a procuramos nós mesmos. Obviamente espera-se dos bolsistas do Terceiro Mundo que, em limitado projeto de aperfeiçoamento a nível de pós-graduação, aprendam em pouco tempo os métodos a serem aplicados para a solução de problemas, logo voltando para casa com esta metodologia, a fim de lá darem respostas aos problemas locais. Iremos encarar um problema, já isso nos distingue dos chamados países em via ao desenvolvimento, e não apenas a técnica que posteriormente aplicamos ... Nossos bolsistas devem ser capazes de permanentemente aplicar com flexibilidade o que eles tem aprendido aqui. Por esta razão a ÖSW zela pela orientação acadêmica e pessoal adequada dos bolsistas, enquanto eles estudam em países altamente industrializados. Isso já começa com a cuidadosa procura por uma instituição de estudos superiores e continua com permanente orientação, inclusive acadêmica, durante o curso, e encontra um acento todo especial no Programa Extracurricular, cultivado pela ÖSW através da organização de seminários e outros encontros de reflexão sobre a importância dos anos de estudo feitos e dos conhecimentos aqui adquiridos em relação ao desenvolvimento."
"Vinculamo-nos a determinados parceiros através de convênios, o que se explica não apenas pelo fato de que os escassos meios financeiros disponíveis deverão ser aplicados economicamente, mas também para assim testemunhar a solidariedade da Igreja junto às instituições do Terceiro Mundo. Acontece que hoje em dia se dá a ênfase principal a tais parceiros que sejam universidades ou instituições do ensino superior, pois ficou evidente que nossa intenção original, de apoiar também projetos de desenvolvimento através de certeiro apoio de medidas de formação, não foi viável na proporção desejada. Isso deve-se ao fato de que, antes de tudo, aos projetos em prol do desenvolvimento, mantidos pelo Estado ou também pela Igreja, são muito imediatistas para poderem se compatibilizar com os relativamente longos períodos de maturação no que tange aos processos de formação e, também, porque a ideologia dos counterparts lá predominante, em última análise até proíbe uma formação adequada dos counterparts por nós apoiados."
"Para os estudantes do Terceiro Mundo não seria ... o mesmo, ler sobre a dependência de seus países, e chegar ao conhecer pessoalmente os vários graus da dependência ou experimentar a solidariedade entre colegas que provêm de outros países. Jamais seria o mesmo, refletir cientificamente sobre certas regras referentes ao desenvolvimento social e econômico, e experimentar pessoalmente e existencialmente suas formas diferentes em países cujos caraterísticas são basicamente semelhantes, e nesta experiência sentir a solidariedade entre outros jovens acadêmicos provindos de outros países ou aprender a lamentar a ausência de tal solidariedade, por motivo de um crescente nacionalismo no Terceiro Mundo, respectivamente." (Prof. Dr. Achim Schrader, Die Stipendienpolitik des Ökumenischen Studienwerks; Ansprache anläßlich des Festaktes des ÖSW am 15.12.1972 [extrato]).
REFUGIADOS POLÍTICOS
O "Programa de Apoio aos Refugiados", da Obra Ecumênica, foi componente importante de suas atividades desde bem no início. Considerado um setor diacônico imprescindível, este setor do tradicional programa de bolsas da Obra Diacônica, de Stuttgart, foi logo integrado ao programa da ÖSW, apesar de que o Programa Ecumênico de Estudos (esp) fora prioritariamente desenhado como meio de ajuda ao desenvolvimento.
A primeira década deste trabalho destacou-se de forma excepcional pelo serviço em prol de uma geração perdida, do subcontinente latino-americano: primeiro chegaram os brasileiros, depois os chilenos, no fim da década os argentinos, e também bolivianos, uruguaios, e, mais tarde, jovens do Paraguai e El Salvador.
A ÖSW não tinha escolhido arbitrariamente seu engajamento em prol de pessoas cuja vida ou liberdade estava sendo ameaçada, muito ao contrário: era a própria historia mundi que o exigia. Podemos desenhar múltiplos programas magníficos ou maravilhosos, mas enfim sempre é a história que nos impõe seus próprios programas, estejamos ou não preparados para isso, mas deve-se aceitar o desafio. Imaginamos que isso seja totalmente contrário às estratégias dos projetistas, mas estamos convencidos de que justamente por isto, numa instituição da Igreja como a ÖSW, necessitamos também daquele pragmatismo parecido ao do bom samaritano na parábola de Lucas, que teve que improvisar socorro porque senão nada teria acontecido. Seguir exemplos de tais arquétipos, como os encontramos no Evangelho, deve - pelo menos até um certo grau - também ser permitido a um Programa da Igreja Evangélica na República Federal de Alemanha e em Berlim Ocidental (como se dizia naquela época), apesar de todo o ceticismo reinante na burocracia eclesiástica relacionada à ajuda ao desenvolvimento! Deve ser destacado nos anais da Igreja Evangélica na Alemanha que, durante uma etapa, isto de fato foi possível. Nos anos 70 e 80 foi possível dar apoio a 30 brasileiros, a mais do que 40 chilenos, 17 argentinos e 7 de outros países latino-americanos (Bolívia, Uruguai, Paraguai, El Salvador), ao todo, a aproximadamente 95 exilados, através do Programa de Apoio aos Refugiados da Obra Ecumênica. Encontrava-se entre os exilados também o líder estudantil paulista, José Serra, já na época um dos mais versados economistas brasileiros, atualmente ministro da Saúde, do governo Fernando Henrique Cardoso. Atendendo a um pedido de FHC, também a socióloga Nísisa Brasileira Augusta de Paula e Sousa recebeu o apoio da ÖSW. Outro intelectual, queimado pela ditadura, que recebeu ajuda da parte da ÖSW em 1972, era o professor de filosofia Gert Bornheim (com quem o diretor da Academia Evangélica no Rio Grande do Sul, Rev. Oskar Lützow, já em 1964 tinha mantido laços de cooperação). O compatrício de Serra, Luís Travassos, como presidente da UNE, fora um dos mais destacados líderes estudantis do Brasil nos anos 1967 e 1968. Ele foi preso em outubro de 1968 e apenas deixou a prisão no ano subseqüente. Junto com outros 14 presos políticos foi trocado pelo embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick e depois enviado para México. Travassos, que não esteve envolvido no caso do seqüestro, mas como símbolo da resistência estudantil ficou incluído no grupo de presos a serem trocados, foi banido e teve de passar 10 anos de sua vida no exílio, primeiro no México e em Cuba, depois no Chile, onde conheceu sua esposa, Marijane Lisboa - que - por motivos formais - depoois se tornou "titular" da bolsa da ÖSW. Por motivo de sua filiação ao Diretório Acadêmico da faculdade, ela tinha sido afastada da universidade e presa por ordem do serviço de contra-espionagem da Marinha. Quando foi libertada, ela solicitou asilo político na embaixada do Chile. Uma vez no Chile, continuara com seu curso de sociologia. Depois do golpe de setembro, foi acolhida à embaixada do México. Via Cidade do México e Bruxelas, os Travassos refugiaram-se em Colônia e, em abril de 1974, foram aprovados pela ÖSW Bochum. Quem havia entrado na Alemanha junto com a família Travassos, fora a estudante de medicina, Maria Auxiliadora (Dora) Barcel[l]os Lara. Em 1968, colaborava no Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina da UFMG, Belo Horizonte. Em 01/03/74, junto com uma turmas de refugiados chilenos, foi aprovada como bolsista da ÖSW. Em outubro de 1974, matriculou-se na Universidade FU-Berlin. Durante a preparação para sua licenciatura, com a psique gravemente abalada, em fevereiro de 1976 teve de se submeter a um tratamento na clínica psiquiátrica de Spandau. No dia 1? de junho atirou-se diante do trem do metrô.
Outros exilados brasileiros, no decurso dos anos aprovados como bolsistas da ÖSW, foram Lúcio Castelo Branco, Jaime Rodrigues, Luiz Ramalho, Flávio Koutzii e Maria do Socorro Magalhães, para mencionarmos aqui pelo menos alguns.
Nestes anos, nos círculos eclesiásticos registrou-se uma certa "claustrofobia" que no decurso dos anos ainda aumentou. Aquela onda de solidariedade, conhecida antes de tudo da primavera do ano de 1974, que se havia erguido sobre os refugiados chilenos, neste meio tempo já tinha chegado ao esgotamento. Isto pode-se notar também numa recomendação (9.2.76) do Conselho com respeito ao "programa para chilenos" - na qual, sob a orientação do presidente Prof. Dr. Achim Schrader, se tentara chegar a um compromisso entre as normas prescritas pela burocracia eclesiástica e as necessidades do programa. O Conselho recomendou que se apresente um documento sobre as prioridades do "programa para chilenos" ao Comitê de Seleção, que se reuniu no dia 20.2.76. O que fora decisivo, era que a recomendação do Comitê de Seleção do dia 20.11.73, referente ao modo de atuar da equipe, devia ficar em vigor, para garantir o necessário espaço de atuação da executiva entre as reuniões do Comitê. "Em casos de emergência, a executiva da ÖSW ou DDW, por decisão do Comitê, fica encarregada de atuar em conformidade com os critérios do esp (pós-graduados por Bochum; graduados e projetos não-acadêmicos por Stuttgart), e de submeter os respectivos casos à próxima reunião." Com essas normas, era plenamente possível manter o programa para os refugiados. (confira Heinz F. Dressel, Kirche und Flüchtlinge, Das Flüchtlingsprogramm des Ökumenischen Studienwerks e. V. Bochum - Zur Geschichte des Ökumenischen Studienwerks e. V. - Augsburg 1996)
Demais bolsistas ecumênicos brasileiros de destaque foram Emil Albert Sobottka (Sociologia), Onésimo Oliveira Cardoso (Comunicação), Esdras Vasconcellos-Guerreiro (Psicologia), Francisco de Assis Esteves (Limnologia) - e, mais tarde, um de seus alunos, Reinaldo Bozelli (Ecologia nos Trópicos), René Ernaini Gertz (Ciências Políticas), Paulo A. Nogueira de Souza (Teologia) etc.
CONCLUSÃO
Prof. Dr. Achim Schrader, membro fundador da Obra Ecumênica de Estudos em Bochum, e, na primeira década do trabalho, vice-presidente da diretoria, Presidente do Conselho para o Departamento de Bolsas - organizado por sua iniciativa - mais do que 10 anos, alternadamente com o Pastor Dr. Hans-Otto Hahn, presidente do Comitê de Seleção do Programa Ecumênico de Estudos da Igreja Evangélica na Alemanha (EKD)- esp.
A semente do trabalho na ÖSW vingou: O Programa de Parceria Acadêmica sobreviveu apesar de fortes crises, primeiro, no que se refere aos programas com a América Latina, depois, no que se refere às parcerias com universidades e colégios na Ásia e na África, e acontece que nem aos críticos nem àqueles que nos sucederam ocorreu algo melhor até o presente momento. Devido ao fato de darmos enfoque às universidades "cristãs", que se encontram, antes de tudo, no sul e no leste da Ásia, apesar das perigosas crises dos anos 80 era possível salvar o Programa de Parceria Acadêmica, assim que no começo dos anos 90, na Ásia, na África, mas também no Brasil, se manteve a cooperação da ÖSW com universidades. No sul e no leste da Ásia, foram em primeiro lugar universidades cristãs na Indonésia, com as quais a ÖSW iniciou cooperação de muitos anos: em julho de 1975, celebrou-se a ratificação de Convênio com a Universitas Kristen Indonesia (UKI), Jakarta. Após, agregaram-se novas universidades parceiras:
a Universitas Kristen Satya Wacana (SWCU), Salatiga; a Universitas Kristen Duta Wacana (DWCU), Yogyakarta; a HKBP Nommensen University, Medan; a Universitas Kristen Petra, Surabaya e até a Universitas Timor-Timur, Dili, Timor-Leste. Na Tailândia, para além da parceria com a Payap University, Chiang Mia, chegou-se à cooperação com a progressista Kasetsart University, Bangkok. Na Índia, à parceria com o renomado Madras Christian College, MCC, Tambaram, substituindo a anterior parceria com Mar Thoma, Lucknow e Ewing Christian College, Allahabad. Novos laços criaram-se com um número de universidades no Vietnã, principalmente nas cidades de Hanoi e Ho-Chi-Minh. Aliás, de novo universidades "públicas", devido à missão da Igreja, que intencionalmente ultrapassa fronteiras artificiais, como o autor, numa meditação, explicitamente sublinhou, lembrando o verso bíblico, Col.3/11, que indica: "Não há mais cortinas de ferro que separam os povos, nem existe mais discriminação religiosa ou cultural, nem ódio entre raças e classes. Agora há somente Cristo, Cristo para todos."
No que se refere à América Latina, o autor destas, após viagem ao continente em janeiro 1990, ao terminar seu serviço na ÖSW, constatou: "Programas protestantes" tornam-se impraticáveis em "continente católico". As Igrejas evangélicas apresentam-se divididas e débeis em termos fincaneiros. Suas lideranças devem ser recrutadas da própria sociedade - conforme as circunstâncias de um ambiente católico. Para um futuro programa com a America Latina, parecem ser de suma importância duas coisas essenciais: exatamente na cooperação com Igrejas minoritárias na América Latina deve-se apoiar, com muito menos escrúpulos, as "forças leigas", profissionalmente não ligadas diretamente à Igreja Evangélica (e os quais talvez sejam até católicos). Quanto ao recrutamento, deve-se ignorar as estruturas "tradicionais", se o caso for, e, independente de considerações confessionais, devia-se considerar ex-bolsistas atuantes em instituições relevantes na área de política de desenvolvimento, comprometidos com instituições ou programas de orientação ecológica ou mesmo detentores de cargos de responsabilidade política especial.

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